O meu filho ovo?
A minha professora teve a ideia de nos fazer cuidar de um ovo. Por mais que isso me lembre de Todo mundo odeia o Chris, para mim era só mais um trabalho e uma experiência que só tinha de nos fazer ter mais responsabilidade, nos ensinar o valor frágil da vida e nos exortar sobre a vida de um casado. Cuidar de um ovo não é fácil, imagine cuidar de um filho!
Por mais que a proposta fosse pretensiosa e instigasse muitos alunos, a mim era uma maneira fácil de conseguir nota. “Cuidar” do ovo, fazer um relatório meloso e sentimental e voilà um dez. Pensei assim, de verdade, e peço perdão a ti, professora, por não entender a grandeza desse projeto.
Como a consciência humana é algo fantástico tanto quanto aterrorizante a nós, pensava uma vez ou outra: “Você irá cuidar mesmo desse ovo, ou só enrolará durante o trabalho e depois fará um texto legal para tirar um 10?”, respondi sim para essa proposta ousada, mas era tarde demais para fazer algo que valesse a pena e fosse legal com o meu ovo. O que fazer?
Na verdade, esse relatório, antes de relatório, é uma confissão. Um arrependimento de uma chance desperdiçada, um erro e um indiferentismo do aluno por uma ideia ousada da professora. Não cuidei do ovo. Levava para escola, para casa e ele ficava a maior parte do tempo no meu quarto em seu berço e com seu capacete do Max Stell. De fato, brincava com ele perto de minha família para lhes fazer graça, mais c’est tout, não o fazia como meu filho que me acompanhava para a hora de comer alguma coisa ou em um tempo em família, o meu filho não estava ali presente nesses momentos na maioria das vezes. Era tudo armação e fingimento.
No dia derradeiro do ovo, queria fazer algo que valesse a pena. Precisava fazê-lo, pois por mim, passou uma chance de fazer algo diferente. Mas o quê? Seu último desejo. Assistir galinha pintadinha para ele ver como ele seria se vivesse mais uns dias como um ovo. Porém outra ideia me vinha à mente, mesmo antes dessa conversão. Le petit prince. Antoine de Saint-Exupéry.
O sábio escritor francês me deu a luz necessária que era para mim o motivo de todo aquele trabalho e uma lição grandiosa para todo ser humano. Cativar e ser cativado.
“ -- Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E Não tenho necessidade de ti. E tu também não tem necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...” (Pensador)
Eis a chave e o objetivo por trás desse projeto. Eggsy I e Eggsy II são ovos como outros milhões de ovos, mas se eles me cativam, precisarei dele e ele de mim. Eis o amor dos amigos! Amor também dos apaixonados! Cativar e deixar-se cativar é o objetivo de nossa vida, pois quando nos cativamos criamos laços e somos mais humanos, pois nos unimos ao que nos cativa e sem ele não poderemos viver como antes.
Seja esse outro seu amigo, irmão, pai, mãe, namorada ou até mesmo o próprio Deus, seremos enlaçados e colados a seu lado, mas essa dependência, antes de escravidão é amor, pois quem ama espera ansiosamente e quem ama quer o amado.
O ovo é o nosso próximo, o desconhecido, e até Deus. Não precisamos do próximo, nem do desconhecido e nem de Deus (na verdade, precisamos sempre), mas quando ele nos cativa, quando um casal troca olhares, quando o fiel sente o sobrenatural… Não são mais os mesmos. O desnecessário vira uma necessidade. O próximo se torna parte de ti. Ovo se torna seu filho. Filho. Seu.
O ovo é bom. Contudo há aqueles amados que não deveriam ser necessários a nós e que nos fazem mal. Há a dependência que escraviza. O outro que é seu alheio que se torna parte sua. Como é difícil sair dos maus amores que nos fazem mal! Olhas pelo que se deixas cativar, porém nunca deixes de se cativar por aquilo que é bom, belo e verdadeiro. Catives pelo próximo. Queiras o bem dos teus. Ames o próximo. Essa é a lição da vida.
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